26 de dez. de 2010

Uma feliz Vida por Mario Quintana

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...

A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:

Como eu sou bela, amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar aí...
como um salso chorando
na beira do rio...

(Como a vida é bela! como a vida é louca!)



20 de dez. de 2010

e operario disse NÃO!...E o patrão disse Cálice

Caaaaaaaaaaaaaaaaaaaaalle-se        ou ...

 
Cálice Chico Buarque




Vinicius e a sociedade

Essa poesia não tem data, mas pelo conteúdo e força revela o quanto Vinicius era politizado, consciente, critico da repressão, da sensura e de tudo que impedia e impede a sociedade e os que constroem a sociedade de crescer...É bem atual...Eu conheci essa poesia nos tempos de greve na Unicastelo em Maio/10, é imensa  mas vale a pena... Dedico esse poema a todos os meus professores

O OPERARIO EM CONSTRUÇÃO

E  O Diabo, levando-o a um alto monte,
 mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
 E disse-lhe : - Dar-te-ei todo este poder e a sua gloria,
porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero;  
portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus,
respondendo, disse-lhe:- Vai-te, Satanás; porque está escrito:
adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. (Lc.5,5-8)



Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão
Como um passaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão


De fato, como podia
Um operario em construção
Compreender pro que um tijolo
Valia mais do que um pião?
Tijolo ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operario ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Alem uma igreja, á frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreira
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinario:
Que o operario faz a coisa
E a coisa faz o operario.
De forma que, certo dia
Á mesa, ao cortar o pão
O operario foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
-Garrafa, prato, facão-
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operario,
Um operario em construção,
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo o que existia
Era ele  quem o fazia
Ele, um humilde operario
Um operario em construção
Um operario que sabia
exercer a profissão.

Ah homem de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operario
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operario emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operario
De operario em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que , tal sua construção
Cresceu também o operario.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
-Exercer a profissão-
O operario adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.




E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operario dizia
Outro operario escutava.
E foi assim que o operario
Do edificio em construção
Que sempre dizia SIM
Começou a dizer NÃO.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:


Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que seu casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão

E o operario disse: NÃO!
E o operario fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
 As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
-"Convençam-no" do contrário
Disse ele sobre o operario
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte o operario
ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
 o operario disse: NÃO!

Em vão sofrera o operario
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguirão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindivel
Ao edificio em construção
Seu trabalho presseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operario
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operario
Fez-lhe esta declaração:


-Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te o tempo de lazer
Dou-te mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se adorares.
E, ainda mais, se abandonares
O que  te faz dizer NÃO!

Disse, e fitou o operario
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operario
O patrão nunca veria.
O operario via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E operario diss: NÃO!

Loucura!- gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
Mentira!- disse o operario
Não podes  dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operario ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus imãos   que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu  no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operario construido
O operario em construção.

(p.317)



mais Vinicius....De repente, não mais que de repente!



Apesar de  escrita antes do primeiro soneto, esse parece responder ao primeiro... Não conheço bem história de Vinicius, mas pelos poemas que ficaram registrados nessa antologia parece que teve muitos amores e desabores....Nos deliciemos com um pouco mais de poesia


SONETO DE SEPARAÇÃO


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente,  da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.





(Oceano Atlantico, a bordo do Higland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro,1938,p.177)


1 de nov. de 2010

me poetisa... tramas, desfeches e desmaches


Enquando os amantes juravam eterno amor, a morena percebeu que não poderia mais sustetar a duplicidade em sua vida, e então decidiu resolver a situação de uma maneira extremamente radical.....




o poeta quando soube
daquele plano malvado
que sua morena tramara 
ficou muito assustado
pois não via a solução
na mortificação
de nenhum escumungado

A morena que tratara
de cada detalhe da festa
tinha  preocupação
muita ruga em sua testa
sua consciencia desgraçada
não a deixava socessagada
por tramar tamanha resta

Num dia antes da festa 
na cachoeira encantada 
os amantes se encontraram
a morena  condenada
 poeta muito aflito
tentou desfazer o  conflito
que era a forma errada

A morena insistiu
não havia quem  convencia
de que matar o marido
era sua profecia
então por convencido deu-se
diante disso calou-se
para assistir a covardia

Na noite da festa então
como era de se esperar
toda a cidade estava
na praça a festejar
Quando a celebridade
cheio de honra e vaidade
chega num elegante trajar

Viu-se grande alvoroço
 o povo todo ovacionou
aquela celebridade
que na praça chegou
fez  um belo discurso
a morena em soluço
e ele a ignorou

No discurso planejado
o brinde devia erguer
ele pede  a sua esposa
o champagne pra beber
em suas mãos ela tem
o calice que contém
o que o faria morrer

Ergue-se o brinde então
ele satisfeito se serve
ela aflita espera
que o veneno encerre
aquele casamento de farsa
que só lhe trouxe desgraça
e a duplicidade da verve.

Depois de alguns instantes
o homem soberano   a rir
derrepente  debruçou
ele estava a cair
a morena arrependida
ficou totalmente perdida
ao ver seu marido  se esvair

 foi  logo socorrido
levado ao hospital
onde se deu a sentença
de todo pobre mortal
dessa vida que a esperança
é da morte uma crença
a nossa morada final.

Ao fim de tudo
A morena se vingou
da sua vida negada
mas isso não aliviou
da dor que estava cansada
do pior de ser casada
ela agora assassinou

aconteceu na cidade
o enterro do capitalista
que mobilisou
toda especie de turista
os que queriam  só ver
os que queriam saber
se alguem tinha uma pista

No dia dos amantes
como era o combinado
na cachoeira de sempre
eles estavam lado a lado
a morena ansiosa
para ter aquela prosa
do enlace esperado

Mas para sua surpresa
muitissimo assustado
o poeta declinou
do enlace encantado
disse que se foi  capaz
de matar esse rapaz
podia até amanhecer assassinado

diante daquele impasse
A morena respondeu,
 jurou eterno amor
de despero chorou
aos seus pés se arrastou
mas o poeta negou
sem compaixão a deixou

(Marlene Borges)
 continua....

12 de out. de 2010

me poetisa...novos sonhos, novas ambições!




esse homem poeta também tinha cor de jambo
 era forte, encantadora a sua presença quando
 sua mulher seduzia e
 sua pele reluzia
nos seus braços enlaçando


                                  Gostava de seios fartos de colo bem enfeitado
gostava de rimar sempre
em seu meio aconchegado
falava de seus decotes
de seus traços mais fortes
de seu desenho encantando



inteligente e inventivo curioso e expressivo
 sempre queria aprender
nunca se via passivo
era muito intuitivo
seu belos olhos ativos
 jamais se viam infinitos





e dessa forma a morena
descreve seu homem amado
 que a libertou das mazelas
 do pior de ser casado
 viram-se belos felizes
refizeram sua matizes
 como encanto consumado



Se encontraram muitas vezes
como testemunha a cachoeira
tiveram  em sua cortina
a parceira verdadeira
que o amor  emcobria
e o desejo aparecia
nos encontros a tarde inteira


Nenhum dos dois desejava
daquele amor abrir mão
sempre que se encontravam
juravam eterna paixão
tinham fogo no olhar
que era imenso feito o mar
muita esperança no coração

sabiam de todo perigo
de tudo que estava em jogo
que estavam logrados
de toda sorte de julgo
faziam planos e avaliação
pra dizer de sua paixão
aos filhos e agregados

a morena de certo
muito mais tinha a perder
pois, meus amigos lembram
era rica pra valer
era casada com capitalista
tinha uma grande lista
de problemas a resolver

então armou a situação
 cansada da duplicidade
de se manter casada
vivendo a falsidade
da aparência do casamento
com todo o sofrimento
de não dizer a verdade

numa noite de festa
como em toda cidade
seu marido era
do lugar  a celebridade
a morena  com ele primeiro
brindaria o champanhe derradeiro
de sua vida e maldade

sem se arrepender
tratou das taças  marcar
como anfitriã atenciosa
dos detalhes  a cuidar
colocou o veneno mortal
que seria o cálice fatal
do homem que a ela só queria amar

(Marlene Borges)

....
continua


.....